O papel da nutrição na dermatite atópica

A dermatite atópica resulta de uma inflamação crónica da pele. Possui uma origem multifactorial, ou seja, vários são os factores desencadeadores da mesma. A predisposição genética, o efeito alérgico de alguns alimentos (ex.: ovo, soja), as desordens imunológicas ou mesmo uma resposta anormal da pele ao ambiente em que se está inserido são alguns dos factores desencadeadores mais frequentes.
Como forma de prevenir ou reduzir a dermatite atópica, em particular nos jovens, existem algumas medidas que podem ser tomadas. A promoção da amamentação é algo a ter em consideração sempre que possível, já que tem influência na severidade da dermatite atópica, prevenindo ou atrasando a sintomatologia. A nível nutricional procura-se incentivar uma alimentação equilibrada e potenciadora de um crescimento e desenvolvimento adequado dos jovens com dermatite atópica. Na presença de uma alergia alimentar, adicionalmente existe a preocupação de garantir o aporte dos diversos nutrientes, de forma a atingir as necessidades nutricionais específicas para a idade. Por vezes verificam-se restrições dietéticas infundamentadas, na procura de uma “cura” da dermatite atópica. Quando combinadas com a falta de acompanhamento durante um longo período de tempo por um nutricionista ou outro profissional de saúde, pode verificar-se um atraso no crescimento e supressão da maturação do esqueleto.

Vamos analisar o que já foi descoberto pela comunidade científica em relação ao papel dos nutrientes na prevenção ou redução da sintomatologia da dermatite atópica.

Lípidos/ gorduras
Sabe-se que uma baixa ingestão de alimentos ricos em gordura de qualidade (ex: azeite de primeira pressão a frio) pode ter um efeito adverso para a saúde, pois os lípidos são vitais para todas as células, incluindo a pele. Entre os diversos tipos de lípidos, sabe-se que os ácidos gordos eicosapentanóicos (EPA) e docosahexanóicos (DHA) tem um papel importante na dermatite atópica. Em conjunto têm uma acção anti-inflamatória, ou seja, diminuem a severidade da inflamação e promovem uma maior integridade da pele, permitindo que a função de protecção do corpo seja bem desempenhada.

Aminoácidos
Estes nutrientes são os componentes base das proteínas. Os aminoácidos encontram-se em alimentos de origem animal, como o peixe e os ovos, mas também em alimentos de origem vegetal como as leguminosas. Os aminoácidos auxiliam na “construção” das células da pele.

Vitaminas e minerais
Presentes em grande quantidade na fruta e legumes, as vitaminas são vitais para o crescimento das células e sua diferenciação na pele. Têm ainda um papel relevante na protecção da pele contra a acção dos radicais livres e sua regeneração. Alguns estudos científicos não só mostram que existe a deficiência de vitamina A e C em crianças com dermatite atópica, como também mostram a importância da vitamina C para a construção normal do tecido fibroso na pele.
A vitamina E também desempenha um papel importante na dermatite atópica. A vitamina E previne que as membranas celulares que formam a pele se danifiquem, protegendo dessa forma a estrutura da pele. Alguns autores consideram que a avaliação dos níveis de vitamina E ingerida a nível alimentar é uma forma mais indicada para avaliar o risco de dermatite atópica do que medindo a concentração sérica de vitamina E. Estes resultados ajudam a mostrar a importância da uma correcta alimentação. Já a vitamina D tem um efeito imunomodelador, bem como uma acção antibacteriana indirecta.
O ferro e o zinco por sua vez são vitais para uma correcta formação de queratina. Promovem o reforço do sistema imunitário e evitam o desenvolvimento de inflamação na pele.

Em síntese, os indivíduos com dermatite atópica devem ter em consideração a forma como se alimentam. Verifica-se que pacientes com baixo aporte de nutrientes possuem sintomas mais severos que os que garantem um bom aporte nutricional. Torna-se fundamental fazer uma alimentação completa, equilibrada e variada, privilegiando os alimentos da época, bem como da região, procurando sempre que possível recorrer aos alimentos o mais naturais possível, optimizando a preparação e confecção dos alimentos, de forma a evitar perdas nutricionais acentuadas. A personalização de um plano alimentar através da orientação por um nutricionista pode ser uma mais-valia.
Bibliografia:
Profiles of selected nutrientes affecting skin condition in children with atopic dermatitis. Rocz Panstw Zakl Hig. 2015;66(1):45-53.
Dietary pattern and nutriente intake of korean children with atopic dermatitis. 2014 Oct;26(5):570-5. doi: 10.5021/ad.2014.26.5.570. Epub 2014 Sep 26.
Nota: imagem retirada daqui.

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